
Pesquisa da Bain & Company revela que 15% dos apostadores latino-americanos contraíram dívidas para continuar jogando em plataformas digitais. O relatório “Consumer Pulse Latam 2025”, ouviu 5.700 pessoas em seis países da região e identificou comprometimento financeiro significativo entre os usuários dessas plataformas em países como Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, México e Peru.
O estudo mostra que o Brasil apresenta índices preocupantes. Conforme reportagens publicadas pelos veículos O Dia e Estado de Minas, baseadas no relatório “Consumer Pulse Latam 2025”, da Bain & Company, foram veiculadas duas reportagens sobre comportamento patológico relacionado às . Entre os participantes brasileiros, 25% afirmaram estar economizando menos para apostar, 24% reduziram gastos com bens não essenciais, 16% cortaram despesas com itens essenciais e 16% se endividaram ou pediram dinheiro emprestado.
O Banco Central estima que aproximadamente R$ 30 bilhões por mês foram destinados a casas de no país durante o primeiro trimestre de 2025. Dados da BigDataCorp indicam que o número de casas de on-line licenciadas no Brasil aumentou 153% entre 2021 e 2024, passando de 840 para 2.100 empresas.
A educadora financeira Aline Soaper alerta sobre os riscos das on-line: “À primeira vista, o jogo parece ser uma brincadeira que gera dinheiro. O jogador recebe, muitas vezes, até um bônus para conhecer a plataforma. Porém, quando a pessoa menos espera, já está viciada, apostando dinheiro do próprio bolso e criando dívidas”.
Soaper enfatiza que as não devem ser vistas como fonte de renda. “Jogo não é investimento, não é renda extra. Infelizmente, as pessoas acham que nada de ruim pode acontecer com um joguinho eletrônico inocente, uma vez que só estão ganhando, mas uma hora a conta chega. Isso acontece porque nós, seres humanos, somos facilmente dominados pelas emoções e somos também muito competitivos”.
O Ministério da Fazenda informa que existem 71 empresas de de quota fixa autorizadas a operar pela Secretaria de Prêmios e no Brasil. Outras nove empresas que tiveram autorização negada continuam funcionando por determinação judicial.
Sobre o impacto econômico, a educadora financeira observa que “As pessoas deixam de pagar suas contas, de fazer compras, de irem ao supermercado, de pagar dívidas com outras coisas, porque querem apostar”. Ela acrescenta: “Existe uma parte do mercado que é prejudicada, porque o dinheiro que a pessoa tem é o mesmo, e ela tem que decidir se ela vai comprar uma roupa, se ela vai comprar comida, se ela vai pagar uma conta ou se ela vai apostar”.
A psicanalista Gisele Hedler, CEO da Faculdade de Saúde Avançada, explica o perfil de risco: “O perfil mais propenso não é o ‘descontrolado’, mas o sobrecarregado. É a pessoa que tem dificuldade de lidar com o vazio, a pausa e o não-controle. Apostar é um alívio disfarçado de entretenimento, uma maneira rápida de gerar sensação de poder, excitação, chance de mudança”.
O Ministério da Fazenda detalha a tributação do setor: “12% sobre a receita bruta vão para as destinações sociais; 11,25% sobre a receita bruta vão para o Programa de Integração Social (PIS)/Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS); e 34% sobre o lucro são destinados ao Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), no caso de declaração por lucro real”.
A Associação Nacional de e – ANJL projeta que o “mercado de regulado tem potencial para gerar, nos próximos cinco anos, aproximadamente 60 mil novos postos formais de trabalho, além de incrementar a arrecadação tributária nacional em mais de R$ 20 bilhões anuais”.
Para mitigar riscos, o Ministério da Fazenda estabeleceu diretrizes através da Portaria nº 1.231/2024. Essas medidas visam “minimizar os riscos associados ao jogo problemático, que pode resultar em vício, endividamento excessivo, isolamento social, comprometimento da saúde mental e conflitos familiares”.
A psicanalista Hedler questiona a eficácia dessas iniciativas: “Soa como um ‘beba com moderação’ no meio de um open bar. Não é suficiente. As campanhas só funcionariam se fossem acompanhadas de informação acessível, dados reais sobre vício e ferramentas para o usuário se auto-observar. Falar de responsabilidade num ambiente que estimula a impulsividade e a ilusão é contraditório”.
Ela alerta sobre os sinais do vício: “O vício não chega com cara de vício. Os primeiros sinais são emocionais. A pessoa fica inquieta quando está longe do celular, sente euforia ao apostar e culpa logo depois. Muito provável que ela desenvolva problemas financeiros e se isole com vergonha de pedir ajuda.”
A especialista recomenda: “Acolher sem julgar e oferecer ajuda, incentivar a visita a psicóloga e psiquiatra, além de não incentivar financeiramente. Esses são os itens primordiais”. Ela enfatiza a gravidade do problema: “Se tornou uma questão de saúde pública pois é uma doença, uma epidemia que ninguém vê, que atinge jovens, adultos, pais e mães de família. Suas consequências vão além de perder dinheiro, ela atinge diretamente a mente e corpo.”
Aline Soaper, que trabalha na área há mais de 10 anos, explica como o ciclo vicioso se inicia: “Inicialmente, as pessoas apostam de forma bem inocente, uma vez que muitas empresas oferecem bônus para jogar (como cupons de desconto, links etc). A partir disso, elas começam a jogar sem ser com o próprio dinheiro, mas precisam cadastrar algum cartão de crédito para continuar, e é aí que o problema começa: depois de conquistar um determinado valor, o jogador passa a colocar a própria quantia na plataforma”.
Ela acrescenta: “A sensação de recompensa gerada por essa conquista a faz buscar por mais e, quando fica endividada, continua apostando para tentar recuperar o valor. No início, é uma brincadeira, todos entram achando que vão ganhar. Inclusive, muitos endividados começam a jogar para tentar pagar essas dívidas”.
Soaper alerta que “O vício provoca atritos familiares, já que muitos jogadores gastam todas as economias. A melhor prevenção é não se envolver com esse tipo de jogo, pois é muito difícil manter um controle saudável”. Ela complementa: “Muitas pessoas que, por já estarem isoladas e deprimidas, acabam buscando nos uma fuga, o que só agrava esses fatores. Aqueles que já possuem tendência à depressão não devem tentar buscar conforto nessa ação. Seria melhor elas buscarem algum esporte ou outra atividade como lazer”.
A educadora financeira esclarece conceitos importantes: “Primeiramente, é preciso entender que o jogo não é uma renda extra e nem uma forma de investimento. Isso é um princípio da educação financeira. Renda extra é trabalho: fazer hora extra, buscar um ofício, vender alguma coisa…”. Ela aponta uma confusão conceitual: “Hoje existe uma grande confusão em relação ao investimento. As pessoas acreditam que, ao colocarem o dinheiro para investir, irão multiplicar o patrimônio em um curto período de tempo. Esse fator faz com que a sociedade pense que investir é menos benéfico que jogar, porque elas não entendem como os investimentos funcionam, então acabam migrando para esse espaço perigoso”.
Para quem já está envolvido com , a recomendação é clara: “Se alguém já está envolvido, o ideal é desinstalar os aplicativos, evitar ter cartões vinculados e buscar apoio emocional. Em casos graves, procurar ajuda médica e orientação com um educador financeiro especializado”.
A educadora alerta para situações extremas: “Já vi casos de pessoas que apostaram o dinheiro que deveria ser usado para fazer as compras básicas. O prejuízo vai além da conta bancária. Ele afeta a dignidade, a saúde mental e pode destruir famílias inteiras”.
O Ministério da Fazenda afirma que “realiza o monitoramento constante da oferta de on-line no Brasil”. A pasta informa: “Quando identificadas plataformas ilegais, são realizados procedimentos para que os acessos aos sites sejam bloqueados. Esses procedimentos incluem a captura de evidências e a comunicação aos provedores de internet do Brasil, com o auxílio da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).” Mais de 13 mil sites já foram bloqueados por operar ilegalmente.
Embora o problema das seja frequentemente associado ao público masculino, Soaper ressalta que as mulheres também têm se endividado com essa prática. “É um problema de todos. Precisamos tirar o estigma e ampliar a conscientização”, diz.
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