

Nos últimos meses, o debate sobre as no Brasil ganhou novas proporções. A CPI das Bets trouxe à tona denúncias e escândalos de possíveis fraudes e, com isso, uma nova onda de repulsa ao setor. Para muitos, a solução imediata parece óbvia. Proibir. Silenciar. Banir a publicidade, os patrocínios, os influenciadores, os algoritmos e, se possível, o assunto inteiro. A intenção pode até parecer nobre, mas a pressa em condenar o que ainda se compreende pouco pode levar o país a um retrocesso talvez irreparável.
O que está em debate não é se o brasileiro deve ou não apostar. Apostar é mais antigo que andar para trás. sempre existiram e continuam existindo, com ou sem regulamentação. Do bolão entre amigos ao aplicativo no celular. Do jogo do bicho às plataformas online. A natureza humana é competitiva, arriscada, curiosa. Aposta, mas nem sempre percebe. É a necessidade de prever o próximo movimento, vencer o acaso, transformar risco em recompensa. Apostar é um comportamento milenar, presente em praticamente todas as culturas. O que separa o hábito do problema é uma palavra simples: regra.
O Brasil decidiu regular um setor que já movimentava bilhões por baixo do radar. E fez bem. Apostadores já existiam. O que não existia era fiscalização, arrecadação, proteção ou transparência. Agora, pela primeira vez, há critérios. Licenças. Responsabilidades. Exigências legais. Casas autorizadas pelo governo federal, com domínio .bet.br, sujeitas a regras claras e penalidades reais. E há também aquelas que seguem atuando à margem. Sem licença. Sem sede. Sem rosto. Sem nenhum compromisso com o bem-estar do usuário.
É curioso observar como parte da opinião pública direciona sua indignação justamente ao lado que resolveu sair da informalidade. Critica quem opera com CNPJ, paga imposto, gera emprego, investe em compliance e joga pelas regras. Enquanto isso, pouco se fala sobre o avanço silencioso dos sites ilegais, impulsionados por big techs que lucram com essa presença e dizem não ter como conter a publicidade desses operadores em suas plataformas. Eles continuam atuando livremente, sem qualquer amarra ou consequência. O jogador continua apostando. Mas agora, se for empurrado de volta para o ambiente clandestino, estará completamente desprotegido.
O exemplo da Itália é emblemático. Em 2018, o país proibiu toda forma de publicidade de com o objetivo de proteger os consumidores considerados vulneráveis. Nada de anúncios. Nada de patrocínios em clubes. Nada de campanhas educativas. Nada de influenciadores e celebridades. O resultado foi o oposto do esperado. A arrecadação caiu. O patrocínio esportivo colapsou. Os sites ilegais ocuparam o espaço deixado pelos legais. O jogador continuou apostando, mas sem saber com quem, sem saber onde, sem saber sob quais condições. O próprio governo italiano hoje reconhece que a medida falhou, e sua revisão já está em pauta.
Proteger o apostador não é calar o setor. É explicar como ele funciona. É informar o que é legal e o que não é. É ensinar a diferenciar o que tem respaldo do que representa risco. O silêncio nunca foi um escudo. A informação é. E é justamente com ela que se combate a desinformação, os exageros, os oportunismos e, principalmente, os perigos reais.
A indústria de pode sim ser cobrada. Mas também deve ser ouvida. Existe um modelo sendo construído no Brasil com base em experiências internacionais bem-sucedidas, como a do Reino Unido. Lá, há políticas de autoexclusão cruzada, limites de , campanhas de educação pública e estruturas técnicas para promover o jogo responsável. E há também arrecadação, transparência e controle. Pode não ser perfeito. Mas é muito melhor do que a terra sem lei que se forma quando o tema é tratado com tabu e moralismo.
A Secretaria de Prêmios e , sob a liderança do secretário Regis Dudena, tem uma missão clara: proteger a economia popular e o apostador. O momento pede equilíbrio. Paixão pela proteção do consumidor, sim. Mas também maturidade para entender que, ao sufocar o que é legal, se alimenta o que é ilegal. A pior aposta que o país pode fazer agora é a da censura travestida de zelo. Se o objetivo for mesmo proteger o brasileiro, o caminho não é o silêncio. É a informação.
(*) Thiago Iusim é Founder e CEO @ Betshield Responsible Gaming www.thebetshield.com
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