
A questão dos online no Brasil é de fato um problema com consequências econômicas e sociais graves, que precisa ser enfrentado com urgência. Os relatos de vício e problemas financeiros envolvendo jogadores compulsivos se multiplicam. Há casos de famílias que deixam de comprar produtos básicos em supermercados, como alimentos, porque os recursos foram destinados aos . Há toda uma indústria de celebridades e empresas que faturam com esse novo mercado. As chamadas bets têm se tornado onipresentes no futebol, na publicidade e nos meios de comunicação.
A CPI em curso no Senado Federal tem se debruçado sobre essas questões com afinco. Pauta-se por uma atuação técnica, propositiva e responsável, reunindo depoimentos e documentos que revelam a gravidade dos impactos sociais, econômicos e jurídicos dos . Após a liberação, em 2018, o país passou anos por um verdadeiro vácuo de legislação, em que proliferaram todos os tipos de empresas, até a regulamentação, que entrou em vigor em janeiro deste ano. Desde então, muitas empresas buscaram se legalizar e hoje pagam impostos. Outras preferiram continuar a agir à margem da lei. Buscamos separar o joio do trigo, além de combater as distorções.
Nas reuniões públicas da Comissão Parlamentar de Inquérito, costumamos tratar todos os depoentes com respeito e civilidade. É trabalho sério, profundo, transparente. Ouvimos, por exemplo, o secretário de Prêmios e do Ministério da Fazenda, Regis Anderson Dudena. Assim como o próprio secretário especial da Receita Federal, Robinson Sakyama Barreirinhas, e mesmo o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, entre empresários, vítimas das consequências do vício em e especialistas.
Após meses de atuação, colhemos o depoimento da influencer Virginia Fonseca, com milhões de seguidores nas redes sociais, para que os holofotes fossem direcionados à comissão. A presença de tal personagem foi necessária, pois pessoas como ela fazem parte da engrenagem dessa indústria. Houve acusações de “tietagem” e “circo”, entre muitas outras. Mas o paradoxo é que esse depoimento se tornou o gatilho para que finalmente a questão passasse a ser debatida em sua dimensão merecida. O fato é que, quanto mais austeras as atividades, menos atenção recebe —inclusive dos imprescindíveis órgãos de comunicação.
Agora, após o depoimento de Virginia Fonseca, a sociedade brasileira está mais atenta a dados como os apresentados pelo Ministério da Saúde à CPI, que indicam um aumento superior a 100% nos atendimentos relacionados a jogo patológico entre 2023 e 2025. Ou ao estudo do Banco Central que aponta mensais de R$ 30 bilhões a bets feitas pelos brasileiros. E assim será com cada nova informação que seja tornada pública.
Mas o que importa na CPI será o legado. O que faremos para minimizar o impacto da atividade. Uma iniciativa é o projeto de lei 2.362/2025, de minha autoria, que propõe o enquadramento dos de azar. Proibiremos exclusivamente de sorte e azar, como o famigerado “tigrinho”, por colidir com a Lei de Contravenções Penais, que considera ilícita a exploração de cujo resultado dependa “exclusiva ou principalmente da sorte”.
A verdade é que em certos , hoje legais no Brasil, nem a sorte adianta, pois os algoritmos são programados para, ao final, retirarem recursos dos usuários. Outro projeto (PL 2.365/2025) visa destinar recursos das bets à criação e ampliação de serviços de saúde voltados ao tratamento da ludopatia, transtorno reconhecido pela Organização Mundial da Saúde e agravado pela popularização dos online.
A CPI das Bets não é um espetáculo. É uma iniciativa séria, que já resultou em investigações robustas, geração de provas e proposição de medidas legislativas concretas. O trabalho da comissão evidencia os impactos nocivos dos de azar online e aponta caminhos reais para o enfrentamento de uma crise social silenciosa, mas crescente.
(*) Hiran Gonçalves é senador da República (PP-RR), é médico e presidente da CPI das Bets. O artigo foi publicado no Folha de S.Paulo.
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