

O mercado ilegal de representa hoje cerca de 50% das realizadas no Brasil. É um número alarmante, mas que parece circular com naturalidade por onde não deveria. Enquanto as casas regulamentadas são cobradas com rigor, fiscalizadas e obrigadas a seguir dezenas de exigências legais, as plataformas ilegais seguem operando livremente pelas grandes avenidas da internet brasileira. E mais grave do que isso, elas ganham visibilidade, tráfego e público com o apoio velado das maiores empresas de tecnologia do mundo, colocando as bets regulamentadas, aquelas que pagaram R$ 30 milhões para operar no Brasil, que pagam impostos e geram empregos, na mesma caixa do escrutínio público.
Como explicar que gigantes como Google, Meta, TikTok e X, as mesmas que vendem anúncios segmentados por intenção de compra, comportamento e localização, e que revisam cada criativo antes da veiculação, simplesmente não consigam coibir a presença de operadoras ilegais em suas plataformas? Elas falham convenientemente quando é para proteger o usuário mais vulnerável.
Tomemos o exemplo da Exclusivo Bet, que ilustra a imagem deste texto. A plataforma, que opera fora das exigências da legislação brasileira e sem o domínio .bet.br, circula com tranquilidade no Instagram, no X, aparece em buscas no Google e utiliza criadores de conteúdo no TikTok para atrair novos apostadores. E não estamos falando de banners escondidos. São conteúdos diversos que, inclusive, utilizam os templates virais das próprias plataformas, com links diretos para o site. O caminho da ilegalidade é pavimentado com cliques impulsionados pelas ferramentas mais poderosas da era digital. Ou alguém aqui realmente acredita que, se as bets fossem proibidas ou tivessem sua publicidade restrita, as pessoas deixariam de apostar?
Enquanto isso, o setor regulado é alvo de debates intensos sobre publicidade, limites de exposição, uso de influenciadores e outros pontos válidos, sim, mas que não tocam em um problema central. Não adianta censurar quem joga pelas regras e fingir que o problema está resolvido. O que vemos hoje é um sistema em que quem cumpre a lei apanha, e quem a ignora prospera sob a omissão conveniente das plataformas. A estrada para a ilegalidade tem farol verde.
Não é mais possível naturalizar a presença de operadoras ilegais nas redes sociais, nos mecanismos de busca e em qualquer conteúdo digital como se fossem apenas mais um anunciante. Não são. São empresas que operam fora da lei, que não oferecem nenhuma garantia ao jogador, que não têm política de proteção, que não estão fisicamente no Brasil, que não têm canais de suporte ou qualquer tipo de compromisso com responsabilidade.
As big techs precisam ser chamadas à responsabilidade. Elas não são apenas meios. São editoras algorítmicas que decidem o que é visto, o que é impulsionado, o que é travado e o que viraliza. Fingir que são neutras nesse contexto não é apenas ingênuo, é perigoso. Ainda mais quando o próprio Estado brasileiro discute, com seriedade e urgência, como criar um ambiente regulado, seguro e equilibrado para o setor de .
A discussão sobre a legalidade das bets, os limites da publicidade e o uso de influenciadores precisa, sim, acontecer. Mas ela só será legítima quando estivermos dispostos a encarar o verdadeiro elefante branco na sala.
Ou enfrentamos isso de frente, ou continuaremos assistindo à hipocrisia digital em que o legal é tratado como vilão e o ilegal circula dando tchauzinho pra todo mundo. O setor regulamentado deve liderar essa mudança, pressionando as big techs por maior responsabilidade, investindo em campanhas e tecnologias que promovam o Jogo Responsável e colaborando com reguladores para coibir plataformas ilegais. O setor regulamentado já entendeu sua responsabilidade. Agora é hora das big techs fazerem o mesmo. Porque quem não combate, consente.
(*) Thiago Iusim é Founder e CEO @ Betshield Responsible Gaming www.thebetshield.com.
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