Mastercard e Visa estão processando pagamentos para sites ilegais de jogos de azar acusados de enganar clientes do Reino Unido em milhares de libras, revela reportagem do The Guardian.
Uma investigação descobriu que os gigantes do pagamento não estão conseguindo impedir que suas redes sejam usadas para fazer transações em sites não licenciados, apesar de uma promessa anterior de fazê-lo.
Na semana passada, o Mastercard foi oferecido junto com criptomoeda como um método de pagamento em nove sites direcionados a clientes do Reino Unido com ofertas de jogos de cassino e apostas esportivas ao vivo.
O Visa também foi oferecido em dois desses sites. Entende-se que ambas as empresas lucram com os acordos, ganhando uma pequena taxa cada vez que uma transação é feita.
Os links das empresas de cartões para os sites não licenciados são revelados após uma investigação coordenada pela Investigate Europe em uma rede de sites de jogos de azar que operam em partes da Europa, apesar de serem proibidos.
Um cliente disse que ficou suicida depois de perder cerca de £ 60.000 involuntariamente jogando em um site não licenciado. Em outro caso, um homem perseguiu com sucesso um operador nos tribunais alemães depois de perder mais de £ 200.000. “Aqueles que administram esses cassinos roubaram minha vida”, disse ele.
Os nove sites que operam no Reino Unido não têm licenças de jogo, que são exigidas por lei, mas aparecem em listas de pesquisa e são promovidos nas mídias sociais. Os cinco sites mais populares atraíram cerca de quatro milhões de visitas no Reino Unido entre outubro e dezembro passados.
Eles foram acusados de não pagar os ganhos e enviar spam para jogadores problemáticos. O FatPirate, que anuncia um bônus de boas-vindas de até £425, tem sido objeto de várias reclamações de que impediu os usuários de sacar o dinheiro que haviam ganho. Um cliente do Reino Unido afirmou que ganhou £6.000 depois de gastar £3.270 com seu cartão bancário, mas não conseguiu retirá-lo.
Um cliente de outro dos sites não licenciados, Gransino, afirmou que sua conta havia sido excluída depois que eles reclamaram que não podiam retirar os ganhos. Quando eles entraram em contato com o suporte, eles foram informados de que era o fim do assunto. “Eles pegam seu dinheiro e nunca pagam”, disseram, acrescentando que estavam “devastados”. Ambos os sites estavam oferecendo pagamento Mastercard na semana passada.
Os operadores dos sites, com sede no exterior, não responderam aos pedidos de comentários. A Mastercard e a Visa disseram que proibiram atividades ilegais em suas redes e investigariam. A Comissão de Jogos de Azar, que regulamenta o jogo na Grã-Bretanha, disse que estava ciente dos sites e “continuaria a tomar medidas contra eles”.
As descobertas levantam questões sobre o papel dos gigantes de pagamento na facilitação de transações de jogos de azar não licenciados – e sobre o aparente fracasso dos reguladores em abordar os sites em primeiro lugar.
Entende-se que a Comissão de Jogos de Azar recebeu reclamações sobre pelo menos cinco dos nove sites identificados na análise. Mas eles permaneceram acessíveis na semana passada – aceitando pagamentos com cartão de clientes do Reino Unido e oferecendo ofertas em libras esterlinas, incluindo bônus de boas-vindas de até £ 1.800 e centenas de rodadas grátis.
A Mastercard e a Visa concordaram em bloquear pagamentos vinculados a operadores não licenciados, entrando em um acordo voluntário ao lado do PayPal com a Comissão de Jogos de Azar em 2014. As empresas são legalmente obrigadas a tomar medidas para impedir o uso de suas redes para atividades criminosas. Mas o Observer descobriu que eles facilitaram pagamentos por sites ilícitos com alto tráfego, que em alguns casos foram publicamente ligados a supostos golpes, levantando questões sobre a robustez de sua devida diligência.
Separadamente, os registros de reclamações ao cão de guarda de jogos de azar revelam a escala do mercado ilícito na Grã-Bretanha – houve pelo menos 922 reclamações sobre operadores não licenciados nos dois anos até dezembro, de acordo com documentos obtidos pela Investigate Europe sob as leis de liberdade de informação. Várias reclamações mencionam Mastercard e Visa pelo nome. Uma pessoa indicou que havia ganhado cerca de £ 70.000 em um site de jogos de azar não licenciado, que permitia transações com a Mastercard, mas só podia sacar uma fração disso.
Iain Duncan Smith, presidente do grupo parlamentar de todos os partidos sobre reforma do jogo, disse que as descobertas foram “profundamente preocupantes”. O ex-líder conservador disse que, embora a maioria dos danos ao jogo on-line tenha sido causada por empresas licenciadas, os reguladores “devem fazer mais para reprimir os abusos por operadores não licenciados”.
Ele disse que o Mastercard e a Visa arriscaram emprestar credibilidade a sites não regulamentados. “Essas empresas devem melhorar imediatamente seu jogo e começar a bloquear todas as transações de sites de jogos de azar não licenciados”, disse ele.
A Mastercard disse que tinha “tolerância zero para atividades ilegais” em sua rede e que, quando os problemas foram identificados, os investigou para que pudesse “trabalhar com parceiros para tomar as medidas apropriadas”. “Agora faremos isso com os sites que você observou”, disse um porta-voz.
WildRobin, um site de jogos de azar não licenciado, oferecendo aos clientes do Reino Unido a chance de pagar com Visa ou Mastercard. Ilustração: Captura de tela
A empresa disse que não tinha uma relação direta com os sites de apostas e que cabia aos bancos garantir que os comerciantes estivessem agindo legalmente e de acordo com as regras da Mastercard. Nem ela nem a Visa comentaram sobre o acordo anterior com a Gambling Commission para bloquear transações de apostas não licenciadas.
A Visa disse que a atividade ilegal em sua rede foi “explícita e inequivocamente” proibida. “Nós levamos isso muito a sério e investigamos todos os relatos de atividades ilegais”, disse um porta-voz, acrescentando que a empresa “não tem relacionamento direto com os comerciantes”, mas trabalha com parceiros para encerrar aqueles que vendem serviços ilegais e “investe constantemente” em “a melhor tecnologia da categoria” para impor a conformidade.
Durante os testes do Observer, os pagamentos foram feitos por meio de uma ferramenta de pagamento chamada PaymentIQ incorporada nos sites de jogos de azar. A ferramenta de “orquestração de pagamentos” é amplamente utilizada por empresas em setores de alto risco para encaminhar transações por meio de diferentes instituições financeiras, maximizando a chance de serem aprovadas.
A empresa francesa de serviços de pagamento Worldline, proprietária do PaymentIQ, disse que era uma solução de software “neutra” que não controlava os fundos dos clientes ou processava pagamentos. “O PaymentIQ não tem responsabilidade de garantir que as regras do esquema e os parceiros adquirentes do comerciante cumpram suas obrigações”, disse um porta-voz.
A professora Heather Wardle, especialista em danos ao jogo na Universidade de Glasgow, disse que as descobertas eram evidências do “amplo e complexo ecossistema comercial” que sustenta o jogo não licenciado. Ela disse que “todo ator” na cadeia deveria ser responsável. “Eles não devem ser complacentes sobre como suas ações permitem esses danos”, disse ela.
A Comissão de Jogos de Azar disse que estava trabalhando duro para interromper o mercado não licenciado, incluindo a emissão de “mais de 770 avisos de cessar e desistir” e encaminhar mais de 100 mil URLs ao Google para remoção nos últimos 11 meses. O CEO Andrew Rhodes citou anteriormente o “phoenixing” como um desafio fundamental para o cão de guarda – onde sites duplicados são criados depois que os ilegais são retirados.
Um porta-voz disse que os clientes poderiam facilmente verificar se os sites eram licenciados pesquisando seu site, acrescentando que aqueles que apostavam em sites não licenciados estavam “se colocando em risco”. “Seus dados financeiros podem ser roubados, coletados ou mal utilizados e você pode nem ser pago se ganhar”, disseram eles.
O Betting & Gaming Council, um grupo de lobby da indústria que representa operadores licenciados, diz que os jogadores na Grã-Bretanha gastam mais de £ 2,7 bilhões em sites não licenciados a cada ano. Disse que o “mercado negro de jogos de azar ilegal e crescente” representava uma “ameaça significativa”.
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