

Projetado pelo arquiteto Lúcio Costa, o prédio do Jockey Club Brasileiro (JCB), no Centro, pode se tornar a sede mundial do Brics. A ideia partiu do prefeito Eduardo Paes e foi apresentada anteontem ao presidente Lula no encerramento da reunião dos representantes dos países que formam o bloco. Subutilizado desde 2013, quando boa parte do setor administrativo do Jockey foi transferida para o Hipódromo da Gávea, o imóvel é alvo de uma negociação entre o proprietário e a prefeitura, que tomaria posse do bem em troca do encerramento de ações para a cobrança de dívidas milionárias de IPTU do clube.
— Com a expansão do número de países que integram o Brics, começaram discussões sobre a necessidade de uma sede fixa para estabelecer uma governança. O Rio foi a primeira cidade a oferecer espaço, porque quer ter protagonismo para uma instituição que aumenta sua importância na economia mundial. Os chineses também fizeram isso quando surgiu a proposta do Brics de criar o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD). Eles ofereceram um prédio em Xangai (onde hoje fica a sede do banco) — explicou o vice-prefeito Eduardo Cavaliere.
Segundo o site da Dívida Ativa da prefeitura, imóveis de propriedade do JCB têm débitos de IPTU que chegam a R$ 220 milhões, e o clube já foi alvo de penhora para garantir a quitação da dívida. Ontem, o Jockey confirmou, por meio de nota, que está em busca de um acordo. ‘‘O imóvel está sendo objeto de negociação com a prefeitura no âmbito de uma possível composição de débito inscrito em Dívida Ativa e em cobrança judicial pela Procuradoria-Geral do Município’’, diz o comunicado.
Bloco não se pronuncia
Procurado, o Brics não informou se vai aceitar se estabelecer no Rio. O que já se sabe é que, independentemente do destino do imóvel, são necessárias obras para modernizar o prédio, inaugurado em 1972. Em 2019, num projeto que previa parceria com investidores privados que não foi adiante, o JCB estimou que precisaria de R$ 100 milhões, inclusive para recuperar os jardins suspensos, projetados por Roberto Burle Marx.
Advogados dizem que a negociação com a prefeitura deve passar pelo que é conhecido no Código Civil como dação em pagamento, acordo que pode ser aplicado em caso de dívidas tributárias. O credor (no caso a prefeitura) pode aceitar um bem do devedor, em lugar de receber o pagamento da dívida em dinheiro.
Com 83 mil metros quadrados e com uma das frentes para a Avenida Presidente Antônio Carlos, a sede social do Jockey tem hoje poucas salas alugadas e um espaço ocupado por um cartório. As garagens também são usadas. O prédio tem salões de festa, quadras esportivas, cinema e piscina. Os sócios do clube, no entanto, podem desfrutar apenas de uma sala de estar, do salão de leitura e do estacionamento.
Dos três imóveis em nome do clube na cidade, este do Centro é o que gera menos receitas. Dos R$ 167 milhões apurados em 2024, principalmente com a venda de em corridas no Hipódromo da Gávea, a sede do Centro contribuiu apenas com R$ 13,4 milhões (7,8%). E as despesas são elevadas: só o IPTU de 2024 foi R$ 2,7 milhões, de acordo com balanços do clube.
— A ideia de oferecer ao Brics é ótima. O prédio é um dos símbolos do esvaziamento do Centro e poderia atrair mais investimentos. Pela localização, aquele imóvel tem vocação comercial, e seu aproveitamento poderia estimular mais residenciais — diz o empresário Cláudio Castro, executivo da Sérgio Castro Imóveis.
Ele avalia que outro fator que desestimula as ocupações comerciais é a metodologia de cálculo do IPTU do Centro. As regras atuais são de 2017, anteriores à pandemia de Covid-19, que mudou a demanda por escritórios e desvalorizou imóveis.
Espaços ociosos
Assim como a sede social do Jockey, outros imóveis comerciais de grande porte estão desocupados ou subutilizados no Centro. Um deles é a antiga sede da Caixa Econômica Federal, na es das avenidas Rio Branco e Almirante Barroso. O banco entregou o imóvel em 2021. Com 56 mil metros quadrados e 31 andares, tem apenas uma loja de produtos chineses no térreo. Segundo auditoria do fundo que faz a gestão do espaço, 98% do prédio está sem qualquer uso.
— Como estamos em transição, ainda não temos uma definição sobre a ocupação do imóvel — disse Guilherme Mourão, diretor da Actual DTVM, que administra o prédio desde 20 de junho.
Outro caso é o do Edifício Sedan, antiga sede do Banco do Brasil, na Rua Senador Dantas. Uma agência bancária e apenas algumas salas continuam abertas no imóvel de 64 mil metros quadrados e 45 pavimentos, um dos mais altos do Rio. O bem chegou a ser posto à venda por mais de R$ 300 milhões. Agora, a intenção do BB é reocupar o prédio com alguns departamentos da instituição.
— O problema é que muitos imóveis não têm perfil para ser retrofitados e convertidos em residenciais porque foram projetados como grandes lajes corporativas, o que torna o custo de adaptação muito alto. E a demanda também foi reduzindo à medida que o Rio perdeu instituições que movimentavam o entorno, como a Bolsa de Valores do Rio, na Praça Quinze — diz o arquiteto Carlos Fernando de Andrade, ex-presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), do Rio. (Com informações do O Globo Rio)
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